Parque Caucaia: DIA DE REFLEXÃO - PARQUE CAUCAIA - BRASIL

DIA DE REFLEXÃO – PARQUE CAUCAIA – BRASIL – 02/12/07

Uma vez mais chega o final do ano. Uma vez mais é tempo de revisão. Revisão de vida, revisão de projetos, revisão das coisas que gostaríamos que dessem certo e deram, das coisas que quissemos que dessem certo e não deram.

Normalmente quando se propõem a fazer uma revisão de vida, as pessoas no mundo que vivemos são demasiadas criticas consigo mesmas, duras consigo mesmas, ressaltando de maneira exagerada as coisas que não saíram tão bem, culpando aos demais ou a si mesmas. Por outro lado, pouca gente sabe como e em que momento se deve fazer o que chamamos "revisão de vida". Ou apelam para refletir de maneira climatizada sobre os fatos, as pessoas, as relações, o trabalho, etc., ou lançam mão de atribuir a "sorte" a responsabilidade por tudo o que lhes acontece. E no final, acabam desistindo desse trabalho, deixando que as coisas "melhorem" no próximo ano.

Para nós, refletir é olhar-nos com atenção. E aqui já nos encontramos com uma primeira dificuldade. O que significa "olhar-nos" e o que signitica "atenção"?

Olhar-nos é a capacidade que todos possuímos de nos conectar com nosso mundo interno, muito além do cotidiano e dos afazeres diários. É uma viagem rumo a um mundo que existe e que pode ser muito superficial, mas também muito profundo, sempre e quando temos a necessidade de empreender essa viagem. Atenção, por outro lado, é a capacidade que a consciência tem de colocar-se, de focar algo sem que outras imagens ou interesses atrapalhem aquilo que pretendemos focar. Podemos ter atenção com tensão e podemos ter atenção relaxada. A atenção tensa sempre se manifesta quando temos um problema a resolver, quando temos algo pendente com alguém ou a fazer. Essa "atenção" não deixa um sabor de crescimento interno, de tranqüilidade e de paz interna. Nos desgasta, nos consome energia, nos tira de coisas verdadeiramente importantes. Atenção relaxada. ao contrario, nos abre a possibilidade e ter como foco no momento em que a praticamos, aquilo que temos que pensar e resolver, de maneira suave, lúcida, sem o excesso de auto-crítica e crueldade para consigo e com os demais a que muitas vezes nos acostumamos.

Ambas possuem registros muito fáceis de identificar: a atenção tensa nos deixa tensos muscularmente, nos altera a respiração, o tônus corporal torna-se contraído e nossas idéias disparam como um filme em alta velocidades. As imagens vêm e vão, seguindo uma lógica que nos entrega o sabor da confusão.

A atenção relaxada nos deixa um registro de suavidade corporal, de estarmos com o coração e a cabeça tranqüilos, um tônus calmo e relaxado, e as imagens, seguem uma direção coerente sobre o que queremos pensar ou resolver.

Fazer uma revisão é fazer uma reflexão utilizando da atenção distensa, relaxada.

Então, o dia de hoje vamos tomá-lo para fazer esta reflexão, esta revisão da nossa vida neste ano que está chegando ao final. Mas não o faremos de qualquer modo e sim, tomando nossa participação na Mensagem como indicador de nosso desenvolvimento espiritual. E assim, depois de um oficio, vamos nos lançar ao dia de hoje revisando nossa vida, nossas relações, nossos projetos, nossos fracassos, nossas conquistas, onzas descobertas. Vamos fazer isso por âmbitos: família, trabalho, amizades, sexo, pessoal, social, etc.

Com esta atitude e essa atenção distensa, vamos tratar de responder-nos com a maior sinceridade possível, para cada âmbito, algumas perguntas:

Quais coisas me estimularam e quais me desestimularam?
Houve algum momento no qual senti que iria perder o controle?
O que foi proveitoso?
O que foi desgastante?
O que sinto que aprendi?
O que sinto que ainda tenho que aprender?
Que projetos de vida fracassaram ou se desviaram pelo acidente ou desatenção cotidiana?

Tempo livre para realizar a reflexão

Café ou almoço compartilhado

Parte II: Intercâmbio em grupo

Leitura de um fragmento do discurso de Silo em La Reja, Argentina, em 05 de maio de 2005, na inauguração da Sala Regional da Mensagem de Silo:

"No entanto, é no trato diário com as pessoas concretas e é perante as angústias da própria consciência que cada um se pergunta pela direcção que deve dar ao seu comportamento e à sua vida.

Como pode uma pessoa decidir a direcção da sua vida se está muito longe de ter o controlo da sua situação diária? Como pode uma pessoa decidir livremente o sentido da sua vida estando submetida às necessidades que se impõem a partir do próprio corpo? Como pode decidir livremente acorrentado como está a um sistema de urgências económicas, a um sistema de relações familiares, de trabalho e de amizade que às vezes se converte num sistema de desemprego e desespero, de solidão, de desamparo, de fracasso das esperanças? Como pode decidir livremente baseando-se numa informação manipulada e numa exaltação mediática de anti-valores capaz de mostrar como máximo modelo de comportamento o poderoso que exibe impudicamente a violência, a ameaça, o atropelo, a arbitrariedade e a desrazão? Como pode decidir livremente se os reitores morais das grandes religiões justificam ou permanecem silenciosos diante dos genocídios, das guerras santas, das guerras defensivas ou das guerras preventivas?

Porque a atmosfera social está envenenada de crueldade, as nossas relações pessoais tornam-se cada dia mais cruéis e o trato que cada pessoa dá a si mesma é também cada vez mais cruel.

Os grandes medos do ser humano impedem-no de dar à vida uma direção desejada e com significado. Os temores à pobreza, à solidão, à doença e à morte conjugam-se e fortalecem-se na sociedade, nos grupos humanos e nos indivíduos. "

Façamo agora uma revisão de nossos projetos e ativdades que estão diretamente ligados aos nossos anseios mais profundos, mais queridos. Todas as coisas que fizemos que nos fizeram sentir mais integros, mais fortes, mais alegres. Nem falemos de grandes coisas. Falemos das pequenas coisas. Um gesto para com outros, uma reconciliação, uma ação... Isso que tem que ver com o dar desprendido, com o tratar aos demais da maneira que gostamos de ser tratados. Revisemos com a mesma atenção distensa e relacionemos estas coisas e estas ações com a Força, de como sentimos nossa vida crescer e se direcionar para o Profundo.

Tempo para realizar o exercício.

Intercâmbio em grupo.

Experiencia de agradecimento

"Quando encontres uma grande força, alegria e bondade no teu coração; ou quando te sintas livre e sem contradições, imediatamente agradece no teu interior..."

Intercâmbio em grupo

Café

Revisemos também os momentos nos quais nos sentimos sozinhos, sem direção, sem sentido, pensando somente em nossos interesses pessoais, de como isso nos tira a luz, nos debilita e nos afasta do nosso Centro interno. Tentemos ir ao mais profundo de nós mesmos e reconhecer que necessidade se apresenta aí. Tentemos o mais que pudermos chegar a esse registro, a essa sensação profunda do que necessitamos para nossa vida. E da mesma forma, utilizemos da atenção distensa para fazer este exercicio. Assim não precisamos ter medo de chegar a essas imagens, não tememos que se apresente nossos medos e nossas carências. Elas são como fantasmas que possuem existência em nosso mundo psicológico, mas são também como a neblina em um trecho da estrada. Quando entramos nela podemos ter a sensação de que não poderemos continuar, mas logo que a atravessamos nossos olhos encontram novamente o caminho que anteriormente parecia perdido.

"Mas, apesar de tudo... apesar de tudo... apesar desse desgraçado aprisionamento, algo leve como um som longínquo, algo leve como a brisa amanhecida, algo que começa suavemente, vai abrindo caminho no interior do ser humano...

Por quê, minha alma, essa esperança? Por quê essa esperança que, desde as mais obscuras horas do meu infortúnio, abre caminho luminosamente?"

Experiência com o Pedido

"Como hoje estamos numa celebração (e em algumas celebrações as pessoas trocam presentes), gostaria de te dar uma prenda que tu verás se merece ser aceite. Trata-se, na realidade, da recomendação mais fácil e prática que sou capaz de oferecer. É quase uma receita de cozinha, mas confio em que irás além do que assinalem as palavras...

Em algum momento do dia ou da noite, aspira uma golfada de ar e imagina que levas esse ar ao teu coração. Então, pede com força por ti e pelos teus entes mais queridos. Pede com força para te afastares de tudo aquilo que te traz contradição; pede que a tua vida tenha unidade. Não destines muito tempo a esta breve oração, a este breve pedido, porque bastará interromperes um instante o que vai sucedendo na tua vida para que, no contacto com o teu interior, se clarifiquem os teus sentimentos e as tuas ideias."

Intercâmbio em grupo

Façamos agora um último exercicio

Tratemos de rever todo o trabalho do dia. Nossas anotações irão nos ajudar muito.

Vejamos como há coisas que queremos e não ocorrem, sintamos como muitas vezes parece que somos duas pessoas ou mais. Observemos como muitas coisas que nos ocorrem, acontecem também com as pessoas mais próximas, mais queridas, e também com as pessoas que conhecemos e as que não conhecemos.

Certa vez, Silo em uma conversa disse aos presentes: "tudo isso faz parte de nós, o que gostamos e o que não gostamos...." "Ilumina com teu olhar e tudo isso será como drácula... não pode com a luz"

Nesses momentos de crueldade, de desumanização, de empequenecimento da vida humana e de violência crescente, reconhecemos que a mudança começa por cada um e nós, mas deve se extender a nossa gente querida, ao nosso mundo mais imediato.

Quando fizemos nossa avaliação deste ano, das coisas que estiveram de acordo e as que escaparam do nosso controle, pudemos perceber como estavam diretamente relacionadas com o mundo de relação.

Então, nosso ultimo exercicio será tentar revisar as coisas que em conjunto estiveram bem e as que escaparam das nossas possibilidades. Não precisaremos ir muito longe para ver como a contradição permeia nossa sociedade em todos os seus fundamentos. Mesmo assim, muita coisa se encaminha numa direção interessante em muitos campos. De como as pessoas tem influência sobre nós da mesma forma que nós temos sobre elas. Este é o ponto.

Intercâmbio

"Afastar a contradição é o mesmo que superar o ódio, o ressentimento, o desejo de vingança. Afastar a contradição é cultivar o desejo de reconciliação com outros e consigo mesmo. Afastar a contradição é perdoar e reparar duas vezes cada mal que se tenha infligido a outros. É esta a atitude que cabe cultivar. Então, à medida que o tempo passe, compreenderás que o mais importante é conseguir uma vida de unidade interna que frutificará quando o que penses, sintas e faças vá na mesma direcção. A vida cresce pela sua unidade interna e desintegra-se pela contradição. E acontece que o que fazes não fica só em ti, mas chega aos demais.

Portanto, quando ajudas outros a superar a dor e o sofrimento fazes crescer a tua vida e dás contribuis ao mundo. Inversamente, quando aumentas o sofrimento de outros, desintegras a tua vida e envenenas o mundo. E a quem deves ajudar? Em primeiro lugar a quem está mais próximo, mas a tua ação não se deterá neles.

Portanto, façamos novamente a experiência com o Pedido, mas desta vez, peçamos por nós, por nossa gente querida e por nossa rua, nosso bairro, nossa cidade, nosso país... nosso mundo, para que esta Mensagem chegue a todos os lugares que necessitam de afeto e sentido.

"Naquele simples pedido há também uma meditação que se orienta para a própria vida. E esse pedido e essa meditação irão ganhando mais força de forma a transformar as situações quotidianas.

Avançando desse modo, talvez um dia captes um sinal. Um sinal que se apresenta às vezes com erros e às vezes com certezas. Um sinal que se insinua com muita suavidade, mas que em certos momentos da vida irrompe como um fogo sagrado, dando lugar ao arroubo dos enamorados, à inspiração dos artistas e ao êxtase dos místicos. Porque, é conveniente dizê-lo, tanto as religiões como as obras de arte e as grandes inspirações da vida, saem dali, das diferentes traduções desse sinal e não há razão para crer que essas traduções representem fielmente o mundo que traduzem. Esse sinal na tua consciência é a tradução em imagens do que não tem imagens, é o contacto com o Profundo da mente humana, uma profundidade insondável onde o espaço é infinito e o tempo eterno.

Em alguns momentos da História levanta-se um clamor, um pedido dilacerante dos indivíduos e dos povos. Então, a partir do Profundo chega um sinal. Oxalá esse sinal seja traduzido com bondade nos tempos que correm, seja traduzido para superar a dor e o sofrimento. Porque por trás desse sinal sopram os ventos da grande mudança."

Conclusôes finais dos participantes

Cerimônia: Imposição