Tradução da apresentação do livro "A mensagem de Silo" feita por Malucha Pinto, escritora e atriz chilena.
A MENSAGEM DE SILO
Não é o caso de fazer um comentário literário mesmo que este livro está belamente escrito. Há imagens comoventes, sugestivas, que te levam de asas a esses espaços que nosso autor-mensageiro tão bem descreve… "Depois, os redentores trouxeram suas mensagens e chegaram até nós em dupla natureza, para restabelecer aquela nostálgica unidade perdida. Também então se disse grande verdade interior." Palavras que abrem, sugerem e cantam.
Não quero fazer esse comentário literário ainda que venha ao caso já que é uma apresentação de livro apesar de que, também, é um livro belamente concebido. Essa letra preta, tão preta sobre uma página imaculada e suave. Esse traço rotundo, essa comunhão entre o alvo e o escuro como parte de uma unidade perfeita, em uma só compreensão. Sua fragrância, sua elegância, seu tamanho que cabe perfeito em minha mão, em meu regaço.
Nesta ocasião quero humildemente compartilhar o que me passou com este texto.
Este SILO me toma da mão, não, não me toma, porque ele não tenta nada… Então me deixo tomar, talvez, escolho ser tomada, decido fazer a viagem. Ele só expõe. Como bom SILO guarda o alimento que nutrirá a comunidades inteiras, se o abrirem. Guarda o grão, o entesoura e cuida para bênção de homens e mulheres, se acedem ao tesouro.
Este livro foi uma viagem que fiz, às vezes a pé, a tranco lentíssimo, às vezes em uma nave construída por mãos de seres de outras galáxias, às vezes a cavalo que anda pela floresta a galope, com o vento despenteando minhas crinas, às vezes planando pelos ares do mundo… Uma viagem com estações precisas. Aí, há uma riqueza imensa: na precisão das estações. Uma viagem de retorno à alma, a minha alma. Nele, não há desordem, nem vagaturas, mesmo que dá espaço à criatividade infinita. Esta é uma viagem que nosso SILO estudou com seu próprio corpo, com seu ser, com sua energia que vem transformando-se em seres novos desde tantos séculos e o seguirá fazendo.
Às vezes ri, às vezes chorei de emoção, reconheci vivências precisas. Disse aaahhh! E ooohhh...! muitas vezes… muitas disse Que irado!!!!, Siiiiiii!!!!
"Lembrei então as legendas sobre os céus e os infernos vendo a linha divisória entre ambos os estados mentais.", diz ele. Eu também lembrei, meu mensageiro.
Eu viajo, ainda, entre o céu e o inferno. Com que claridade o tenho visto, mensageiro!
"Fui perdendo a fé na morte e desde então não creio nela, como não creio no sem sentido da vida.", diz. Isso o compartilho, mensageiro, apesar do meu caos.
Uma folha branca, muito branca… aproximo meu nariz… inalo:
Cheiro o claro que resplandece pondo luz nas zonas escuras. Sem julgamento, desde uma tranqüilidade que, às vezes, parece frialdade. Sinto-me incomodamente livre. A liberdade às vezes molesta. Estou tão acostumada à paixão e seus jogos adrenalínicos. A paixão me escraviza, o mensageiro-autor não me obriga a segui-lo, não me manipula, não tenta me convencer. Maldito, digo, não posso polemizar contigo, não posso discordar e entreter-me horas nisso já que não te interessa que eu te siga. Somente me amas ao compartilhar comigo tua rota.
Ele desdobra ante meus olhos sua vivência, passo a passo, transformada pelo rio do tempo. Nessas palavras que saem de sua pena, da elaboração acurada que faz sua cabeça, está a pegada indelével de seu próprio caminhar atento, em estado de alerta permanente até nas trevas. Aí está o ser humano com sua própria busca, exposta sua vulnerabilidade ao descrever as armadilhas do caminho. Que vontade de viver me deu!!!! Que desejos irrefreáveis de não fechar os olhos nem a alma nunca! Como me vi, como me olho à medida que te vou lendo mensageiro! Como você foi generoso e amante da minha própria vida, SILO cheio de sementes para passar o inverno!
Este livro tem cheiro de livro de meu papai que abre portas a novas compreensões. Voltei a ser a criança que trepava por estantes cheias de conhecimentos que agitavam meu coração e que me permitiam se aproximar do que poderia conduzir-me à quietude graças ao que se ilumina. Abri como intrusa Pandora este baú livro e senti que saíam da mim as sete pragas, e também, luminosa e certa por ser experiência, a esperança da paz.
Este livro, para mim, tem cheiro de maizena, farinha, ingredientes que cozinhados trariam prazer e nutrição a meu caminhar. É receita, também, se eu te sigo cuidadosa, e nas medidas exatas. Poderei, porque você pôde, mensageiro, encontrar-me com a Força prometida que não só abençoará a mim e a minha vida, mas a vida de todos. Uma Força tão diferente da força que conhecemos e praticamos, uma força que é luz multiplicada para a paz, a alegria e o amor.
Cheiro de espaços abertos onde posso escolher ficar, olhar, voar, contemplar, sentar, não importa, mas a sugestão é despertar, traspassar as armadilhas, seguir, perseverar. Ser pássara olhuda da minha própria experiência, instalar-me a meditar, permitir-me entrar.
Umas gratidões quero jogar à terra ao mensageiro-escritor. O guardo em minha alma. Gratidões por tantas permissões que me deu respeito às temáticas proibidas: Sexo, religião, sucesso. Permissões para olhar com o olho da águia implacável, mas amorosa. Graças pela sua própria viagem que ilumina a minha, pelas iluminações, pelas sensações de alegria e bondade infinita ao longo da leitura e a prática que propõe o texto balançando ante meus olhos. Gratidão pelo limpo, pela ordem, pelo método. Gratidão muitas vezes.
Mensageiro severo, sou outra a que pergunta, depois desta fragrância de folhas, palavras, cor da letra. Sim, perguntarei: Quem sou? Para onde vou? Buscarei essa coerência que me conduz para a unidade perdida e a construirei no mundo de fora e no mundo de dentro que são um só mundo. Comprometo-me mensageiro, contigo, comigo, conspiramos. Escondida entre tuas palavras está a promessa do coletivo. Não estamos sós, não há morte, vamos construindo a paz, a alegria em cada um e em todos.
Resposta de Silo para Paula e Malucha
Paula, muito obrigado por me enviar o texto da apresentação que Malucha fez. É muito belo. Nesta exposição aparece a talentosa escritora e se intui a atriz pelo seu domínio dos espaços expositivos e dos espaços internos...
Em uma simples exposição toca numerosos temas e o faz se apoiando em recursos para nada convencionais. Isto é o surpreendente: fala do Livro, mas trata o tema como se trabalhasse desde o alambique de um perfumista que se aproxima percebendo desde muito longe, combinando matizes segundo as distâncias. Não faço esta menção em vão porque se bem que suas apreciações são brilhantes: às vezes abstratas e em algumas ocasiões aceradas e sólidas, tudo parece ser percebido desde um perfume distante. É, diria, extraordinário. Nunca houve respeito a minha obra, uma aproximação olfativa, uma aproximação sensorial tão difícil (e para ela, tão simples). E é graças a essa aproximação que pode ascender além dos sentidos, além das representações para chegar a um mundo que os antigos chamaram da "alma", fora de toda representação.
A propósito, agradeço todo o comentado por ela, mas ao mesmo tempo quisera que esse texto não se perdesse entre outros textos. Tomara seja conservado como a peça excepcional que é; como o texto que voa além da apresentação literária.
Muito obrigado Paula. Muito obrigado Malucha.
De todo coração, Silo.
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